Os sinais mais frequentemente retratados em psiquiatria são alterações do comportamento, da postura, da apresentação, das atitudes e reações do indivíduo (por exemplo agitação, hostilidade, apatia, entre outros). Os sintomas descritos em saúde mental podem ser psíquicos (queixas relacionadas à atividade mental do indivíduo) como por exemplo dificuldade para pensar, falta de concentração, tristeza, ansiedade, irritabilidade; ou físicos (queixas relacionadas ao corpo do indivíduo) como por exemplo cansaço, aperto no peito, fraqueza,entre outros.
A descrição dos quadros clínicos em psiquiatria depende de verificação minuciosa de todos os aspectos observáveis das funções psíquicas de um indivíduo e de questionamentos adequados a cada indivíduo. Tais questionamentos têm como finalidade obter o máximo de informações sobre as capacidades percebidas, dificuldades, sensações, vivências, impressões e percepções relativas às funções mentais do indivíduo.
As funções psíquicas ou mentais mais comumente avaliadas em saúde mental são: Consciência, Atenção, Orientação, Sensopercepção, Memória, Afetividade, Volição, Psicomotricidade, Pensamento, Juízo de realidade, Linguagem, Personalidade e Inteligência e suas definições e alterações estão listadas a seguir.
Consciência:
Pode ser definida como o grau de clareza do sensório. No estado normal um indivíduo se encontra vigil ou desperto. As alterações patológicas dessa função psíquica são os diversos graus de rebaixamentos do nível de consciência, ou alterações quantitativas, e as mudanças focais do campo de consciência, ou alterações qualitativas. Entre tais alterações estão: turvação da consciência, torpor, coma, estados dissociativos, transe, entre outras.
Atenção:
Pode ser definida como o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto e envolve nossa capacidade de focar e manter a atenção (tenacidade), de mudar de forma flexível o foco para outro objeto (vigilância), de selecionar informações relevantes, de planejar e tomar decisões. O funcionamento normal da atenção é chamada normoprosexia e as alterações podem ser hipoprosexia (diminuição global da atenção), hiperprosexia (estado de atenção exacerbada), hipertenacidade (concentração exagerada mantida em determinado conteúdo), hipotenacidade (falha na capacidade de focar e manter a atenção), hipervigilância (dificuldade em fixar a atenção) e hipovigilância (dificuldade em variar o foco da atenção). Por exemplo: a distraibilidade é uma estado que envolve a hipotenacidade e hipervigilância.
Orientação:
Pode ser definida como a capacidade de orientar-se quanto a si mesmo (autopsíquica) e ao ambiente (alopsíquica). A orientação autopsíquica mostra se o indivíduo sabe quem é: seu nome, profissão, idade, etc e a alopsíquica envolve a capacidade de se localizar no tempo e no espaço: onde estamos, que horas são, que dia é hoje, etc. Prejuízo na capacidade de orientação (desorientação) em geral está associada a diminuição do nível de consciência, apatia intensa ou quadros de desorganização mental intensos.
Sensopercepção:
Esta função psíquica envolve dois conceitos: sensação e percepção. A sensação pode ser definida como o fenômeno gerado por estímulos sensoriais (físicos, químicos ou biológicos variados) que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Já a percepção pode ser caracterizada como a tomada de consciência pelo indivíduo do estímulo sensorial. As alterações da sensopercepção mais comuns são ilusões (percepções distorcidas de um estímulo real), que em geral são auditivas ou visuais, e alucinações (percepção sem a presença de um estímulo real). As alucinações podem ser auditivas, visuais, táteis, olfativas, cenestésicas, entre outras.
Memória:
Pode ser definida como a capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e fatos já ocorridos. As alterações da memória mais comuns são as quantitativas com aumento da velocidade de afluência dos conteúdos da memória (hipermnésias) ou com perda da capacidade de fixar ou de manter e evocar tais conteúdos (amnésias ou hipomnésias).
Afetividade:
Este termo compreende vários componentes das vivências afetivas como o humor, a emoção, os sentimentos entre outros. O humor pode ser caracterizado como o estado emocional basal de um indivíduo em um determinado momento e que influencia o seu comportamento e colore sua percepção de ser no mundo. A emoção é um estado afetivo mais intenso, de curta duração, originado em geral de estímulos internos ou externos. Os sentimentos, por outro lado, são estados afetivos mais estáveis e atenuados, menos reativos a estímulos passageiros e em geral estão associados a conteúdos intelectuais, valores e representações.
As alterações do humor podem ser observadas pelo médico (p. ex., um rosto infeliz) ou sentidas apenas pelo paciente (p. ex., desesperança). Os adjetivos mais comuns para descrever o humor são: deprimido, triste, vazio, melancólico, angustiado, irritável, desconsolado, expansivo, excitado, eufórico, maníaco, ansioso, com raiva, expansivo, vazio, culpado e muitos outros. É importante também a caracterização da intensidade, da duração e de possíveis flutuações. O humor pode ser lábil, flutuar ou alternar rapidamente entre os extremos (p. ex., rindo alto e de modo expansivo em um momento, choroso e desesperado no seguinte).
As variações das emoções, dos sentimentos ou do afeto mais vistas são apatia, distanciamento afetivo, falta de prazer em atividades (anedonia), indiferença afetiva, labilidade, embotamento, superficialidade, ambivalência, medo, fobia entre outras.
Volição:
A definição da volição ou vontade envolve a compreensão do processo volitivo. Esse processo ocorre em 4 fases: intenção, deliberação, decisão e execução. A fase de intenção ou propósito envolve a influência dos desejos, impulsos e temores sobre a vontade do indivíduo. A fase de deliberação diz respeito a ponderação consciente desta vontade pelo indivíduo, que analisa o que seria positivo ou negativo em sua decisão. A fase de decisão é o momento culminante do processo volitivo, quando o indivíduo opta e inicia a ação. A fase de execução constitui a etapa final do processo volitivo, na qual os atos ocorrem com a finalidade de realizar aquilo que foi mentalmente decidido. As alterações da vontade mais observadas são: diminuição da atividade volitiva ou até abolição desta, em geral sob a queixa de que não tem vontade para nada, (hipobulia ou abulia); atos impulsivos patologicos, que são atos executados sem fase prévia de intenção, deliberação e decisão, de modo explosivo e instantâneo, e os atos compulsivos, que são atos reconhecidos pelo indivíduo como indesejáveis ou inadequados, havendo tentativas de resistir mas que, ao serem executados, trazem certa sensação de alivio imediata que logo é substituída pelo desconforto e necessidade de executar o ato novamente.
Psicomotricidade:
A psicomotricidade pode ser caracterizada como a capacidade de determinar e coordenar mentalmente o conjunto de atos motores simples e complexos por um indivíduo. Refletindo o ato motor como a expressão final do ato volitivo e associando muitas das respostas e alterações psicomotoras às vontades e alterações volitivas. As alterações da psicomotricidade relacionadas a psiquiatria mais comuns são: agitação psicomotora (aceleração e exaltação de toda a atividade motora do indivíduo); lentificação psicomotora (movimentação voluntária torna-se lenta, difícil); catalepsia (exagero intenso do tônus postural, com redução da mobilidade passiva e hipertonia muscular global); flexibilidade cérica (o indivíduo ou parte do seu corpo é colocado em determinada posição e assim permanece como um boneco de cera); cataplexia (perda abrupta do tônus muscular); estereotipias motoras ( repetições automáticas e uniformes de um ato motor complexo); maneirismo (movimentos bizarros e repetitivos, geralmente complexos, que buscam certo objetivo); tiques (atos coordenados, repetitivos, resultantes de contrações súbitas, breves e intermitentes); conversão motora (surgimento abrupto de sintomas físicos como paralisias, contraturas conversivas, ataxias psicogênicas de origem psicogênica). Outras alterações psicomotoras também podem estar associados a questões psíquicas tais como: alterações da marcha, hiperventilação psicogênica, algumas apraxias, apragmatismo, e outras; ou relacionadas ao uso de psicofármacos, tais como tremores, rigidez, discinesia, acatisia, distonia, entre outros.
Pensamento:
O pensamento é constituído por diversos elementos intelectivos como os conceitos, os juízos e o raciocínio. Uma forma mais simples de analisar essa função psíquica é através do processo do pensar. Tal processo envolve o modo como o pensamento flui (curso do pensamento), a sua estrutura básica (forma do pensamento) e o que dá substancia ao pensamento, seus temas e assuntos predominantes (conteúdo do pensamento). As alterações mais comuns do pensamento quanto ao curso são aceleração, lentificação, bloqueio e roubo do pensamento. Com relação a forma o pensamento pode se apresentar desorganizado, incoerente ou de difícil compreensão por alterações variadas: fuga de idéias, dissociação, afrouxamento das associações, descarrilhamento e desagregação do pensamento. No que se refere ao conteúdo os principais temas que preenchem os sintomas psicopatológicos são: persecutórios, hipocondríacos, depreciativos, religiosos, sexuais, de grandeza, de ruína ou culpa.
Juízo de Realidade:
O juízo é um elemento constitutivo do pensamento e implica o julgamento com base em elementos subjetivos, individuais e elementos sociais, históricos, A atribuição de um juízo falso, não necessariamente é patológica, ele pode ser decorrente de crenças culturais, superstições, ignorância, preconceito, importância afetiva, etc. As alterações patológicas do juízo envolvem algumas idéias prevalentes ou sobrevaloradas (como por exemplo a idéia de estar gorda em uma paciente com anorexia) e os delírios. Estes últimos podem ser simples (com um tema único) ou complexos (com vários temas interligados), organizados ou não, com diversos graus de convicção, de desorganização, de preocupação, de incompatibilidade com a realidade, de extensão às esferas da vida do indivíduo, de comportamento desviante e de resposta afetiva com relação ao delírio. Os conteúdos dos delírios podem ser persecutórios, auto-referentes, de influência, de grandeza, de ciúmes, de culpa, religioso, entre outros.
Linguagem:
A linguagem, em especial na forma verbal, é o principal instrumento de comunicação dos humanos, além de ser fundamental na elaboração e expressão dos pensamentos, dos estados emocionais e da criatividade. As alterações da linguagem podem estar associadas a quadros neurológicos ou psiquiátricos. As alterações da linguagem secundárias a lesões neuronais compreendem as afasias (perda da linguagem falada e escrita pela incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais), parafasias (indivíduo deforma determinadas palavras), agrafias (perda da linguagem escrita), alexias ( perda da capacidade de leitura) , disartrias (incapacidade de articular corretamente as palavras). As alterações da linguagem associadas a transtornos psiquiátricos primários mais comuns são: logorreia (produção aumentada e acelerada do discurso, muitas vezes ocorrendo perda da lógica do discurso); bradifasia (fala lenta e difícil); mutismo (ausência de resposta verbal oral por parte do doente); perseveração (repetição automática de palavras ou trechos de frases de modo mecânico, estereotipado e sem sentido); ecolalia (repetição das últimas palavras que foram dirigidas por outra pessoa ao indivíduo); palilalia (repetição das últimas palavras que o próprio indivíduo emitiu); tiques verbais (produção de fonemas ou palavras de forma recorrente, imprópria e inevitável); coprolalia (emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas, vulgares ou relativas a excrementos); verbigeração (repetição monótona e sem sentido comunicativo de palavras, silabas ou trechos de frases); mussitação (produção repetitiva em voz muito baixa, murmurada, sem sentido comunicativo); glossolalia (produção de uma vocalização, pouco compreensível, sem sentido lingüístico mas imitando o ritmo da fala).
Personalidade:
Pode ser conceituada como a integração de traços psíquicos, abarcando todas as características individuais em sua relação com o meio e com outros indivíduos, incluindo todos os fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua formação, combinando as tendências inatas e experiências adquiridas. Os transtornos de personalidade correspondem ao conjunto de comportamentos e reações desarmônicas, envolvendo vários aspectos da vida do indivíduo, que ocorrem regularmente de forma estável e permanente e que trazem dificuldades e sofrimento a ele e/ou às pessoas com quem convive. O indivíduo pode apresentar alguns comportamentos e reações alteradas isoladas, sem apresentar efetivamente um transtorno de personalidade. Os transtornos de personalidade mais descritos são paranóide, esquizóide, esquizotípica, borderline, sociopática, histriônica, ansiosa, anacástica (ou obsessiva) e dependente. Leia mais...
Inteligência:
A inteligência indica o conjunto das habilidades cognitivas do indivíduo, a resultante dos diferentes processos cognitivos. Referindo-se à capacidade de identificar e resolver problemas novos, de reconhecer adequadamente as situações vivenciais mutáveis e encontrar soluções satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, reagindo às exigências de adaptação biológica e sociocultural. Alguns autores especificam diferentes tipos de inteligência como a inteligência social, emocional, intrapessoal, etc. Na avaliação psicopatológica da inteligência ela é considerada como um todo, levando em consideração o rendimento intelectual nas suas diversas áreas. Para tal avaliação são utilizados múltiplos testes individuais padronizados que resultam em uma medida convencional da capacidade intelectual, chamada de quociente de inteligência (QI). As alterações da inteligência referem-se a resultados de QI abaixo da média esperada para uma determinada população: inteligência limítrofe e retardo mental, este último pode ser classificado como leve, moderado, grave ou profundo.